quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Laranja Mecânica



     A Clockwork Orange, filme britânico de 1971 dirigido pelo Stanley Kubrick, é uma adaptação do romance homônimo publicado em 1962 pelo escritor inglês Anthony Burgess.

     Se encaixa nos gêneros drama, suspense e ficção científica e em 1972 teve 4 indicações ao Oscar e 3 ao Globo de Ouro.

     A história, ambientada em Londres num futuro não especificado, é narrada pelo personagem principal: Alex (Malcolm McDowell), um jovem com pais amorosos, boa casa, que gosta muito de Ludwing van Beethoven e tem uma cobra de estimação. Ele sempre arranja desculpas para faltar às aulas, tem comportamento ultraviolento, é líder de uma gangue que invade residências, rouba, espanca, violenta mulheres e arruma briga com a gangue rival.

     Esses amigos se encontram sempre numa leiteria para beber moloko (leite) o que contrasta muito com as barbáries que cometem já que o ato de beber leite geralmente está vinculado à infância, à pureza de espírito e atitudes das crianças. Também há o fato de usarem vestes brancas, uma cor que denota pureza, ao cometer suas atrocidades.

    Após uma disputa pela liderança da própria gangue, seus  droogs (amigos) armam e o traem, deixando com que Alex seja sentenciado a 14 anos de prisão. Após cumprir 2 anos se comportando bem, o rapaz dá um jeito de ser selecionado para um programa de reeducação do governo, o Método Ludovico (em referência sutil a Ludwing van Beethoven), que consiste em "violência combatendo violência". Aplicam-lhe um soro que causa mal-estar físico e o obrigam a ver cenas de violência e sexo, que antes ele adoraria, amarrado em camisa de força e com presilhas impedindo o fechamento dos olhos, o que fará seu cérebro associar os enjoos causados pelo soro à agressões diversas. Em uma das sessões, passam cenas do partido nazista sonorizadas pela Sinfonia nº 9, de Beethoven, que era sua predileta. Nesse ponto nota-se o seu desespero por ter consciência de que nunca poderá ouvir a música por tê-la relacionado ao sofrimento. Em 15 dias ele já está supostamente reabilitado ao convívio em sociedade e é liberado. Esse tratamento furta-lhe também a capacidade de se defender de agressões exercidas contra ele. 

     Chega na casa dos pais de surpresa e descobre que sua posição na família foi ocupada por um hóspede e sua cobra "sofreu um acidente" o que o revolta, causando um mal-estar que o faz se afastar deles. Já na rua, encontra uma antiga vítima de sua gangue que resolve dar-lhe o troco, mas chegam dois policias para ajudá-lo. Para espanto de Alex, estes guardas são seus antigos droogs que o levam para um lugar afastado e tentam afogá-lo por saber que, após o tratamento, ele não revidará como costumava fazer anos antes. Buscando auxílio numa casa que considera familiar, ele se depara com outra de suas vítimas: um escritor que resolve usá-lo contra o governo, já que este apoia a oposição ao atual ministro que está próximo à reeleição. Com ajuda de conhecidos trancafia Alex fazendo-o escutar a Sinfonia nº 9 até a agonia ser tanta e o rapaz se jogar pela janela.

     O garoto não morre, entretanto passa um longo período num bom hospital em estado de inconsciência. Ao recuperá-la, rejeita os pais que vão visitá-lo supostamente arrependidos da forma como trataram o filho no último encontro. O ministro atual lhe faz uma visita a fim de selar um acordo de ajuda mútua. Alex aceita e diz  que "Definitivamente, estava curado." enquanto se vê numa fantasia surreal transando com uma mulher na neve, rodeado por damas e cavaleiros vitorianos aplaudindo e então ouve-se o último movimento da Nona Sinfonia.

     Um dos pontos interessantes é o uso do Nadsat, um vocabulário próprio que mistura termos em russo, inglês, cockney criado pelo Anthony Burgess, como no caso de droogs (amigos, companheiros), moloko (leite), crove (sangue), tolchoque (pancada, golpe), videar (ver), bog (deus), devotchka (garota), horrorshow (legal).

    Outro destaque é a trilha sonora muito bem selecionada para cada cena. Ora batidas fortes, combinando com a violência mostrada na tela, ora uma melodia acelerada numa cena igualmente acelerada (quem assistiu lembrará).

     Bem, considerei o filme ótimo para análises. O comportamento naturalmente violento dos jovens, o instinto de vingança das vítimas, a discussão ética e moral sobre a capacidade de discernimento do certo e errado, tornar um homem programado, automatizado sem poder de escolha, a manipulação das pessoas pelas frentes políticas e mídia são características marcantes dessa obra e que fazem dela sempre atual. 

     É importante levar em consideração também o contexto no qual ela foi produzida. Burgess foi também um crítico inglês preocupado com a pratica do behaviorismo nas clínicas, consultórios e prisões, serviu o exército inglês na II Guerra Mundial e teve um falso diagnóstico de doença fatal, tendo este último fator causado um frenesi literário nele em 1959. O filme tem influência do psicodelismo também no contraste de cores e figuras, na mudança de posicionamento de objetos nas cenas a fim de causar estranhamento ao espectador.

     É um bom filme, porém não para quem busca apenas entretenimento e sim para quem é atento às mensagens. Espero que tenham gostado dessa minha primeira resenha. A quem ainda não assistiu o filme, assista, agora com uma base e direcionamento.

Até mais.

Ps: Se notarem alguma falha minha, favor falar.

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